[...]
"Não compre manual para criar os filhos,
para aprender o gozo,
para
despistar os fantasmas.
Não existe manual que ensine a cometer bobagens.
Não seja sério;
a seriedade é duvidosa;
seja alegre;
a alegria é
interrogativa.
Quem ri não devolve o ar que respira. […].
Use roupas com
alguma lembrança.
Use a memória das roupas
mais do que as próprias
roupas.
Desista da agenda, dos papéis amarelos,
de qualquer informação
que não seja um bilhete de trem.
Procure falar o que não vem à cabeça.
Cantarolar uma música ainda sem letra.[…]
Seja imprudente porque,
quando
se anda em linha reta,
não há histórias para contar.
Leve uma árvore
para passear.
Chore nos filmes babacas,
durma nos filmes sérios.
Não
espere as segundas intenções
para chegar às primeiras.
Não diga “eu sei,
eu sei”,
quando nem ouviu direito.
Almoce sozinho para sentir saudades
do que não foi servido em sua vida.
Ligue sem motivo para o amigo,
leia o
livro sem procurar coerência,
ame sem pedir contrato,
esqueça de ser o
que os outros
esperam para ser os outros em você.
Transforme o sapato em
um barco,
ponha-o na água com a sua foto dentro.
Não arrume a casa na
segunda-feira.
Não sofra com o fim do domingo.
Alterne a respiração com
um beijo.
Volte tarde.
Dispense o casaco para se gripar.
Solte palavrão
para valorizar depois
cada palavra de afeto. […]
Cometa bobagens.
Ninguém lembra do que foi normal.
Que as suas lembranças não sejam o que
ficou por dizer."
_________Fabrício Carpinejar.
Imagem::Google
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