"Ser
sensível nesse mundo requer muita coragem.
Muita. Todo dia.
Esse jeito
de ver além dos olhos,
de ouvir além dos ouvidos,
de sentir a textura do
sentimento alheio,
tão clara, no próprio coração.
Essa sensação, às
vezes,
de ser estrangeiro e não saber falar o idioma local,
de ser meio
ET,
uma espécie de sobrevivente de uma civilização extinta.
Essa
intensidade toda em tempo de ternura minguada.
Esse amor tão vívido em
terra em que
a maioria parece se assustar mais com o
afeto do que com a
indelicadeza.
Esse cuidado espontâneo com os outros.
Essa vontade tão
pura de que ninguém sofra por nada.
Esse melindre de ferir por saber,
com nitidez, como dói ser ferido.
Ser sensível nesse mundo requer muita
coragem.
Muita. Todo dia.
Essa saudade, de fazer a alma marejar,
de um
lugar que não se sabe onde é, mas que existe.
Essa possibilidade de
experimentar a dor,
quando a dor chega,
com a mesma verdade com que
experimenta a alegria.
Essa incapacidade de não se admirar
com o encanto
grandioso que também mora na sutileza.
Essa vontade de espalhar buquês
de sorrisos por aí,
porque os sensíveis,
por mais que chorem de vez em
quando,
não deixam adormecer a ideia
de um mundo que possa acordar
sorrindo.
Pra toda gente. Pra todo ser. Pra toda vida.
Eu até já tentei
ser diferente,
por medo de doer,
mas não tem jeito:
só consigo ser igual
a mim."
________Ana Jácomo*
Imagem::Google
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