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sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

♥ Doce como a chuva - Leitura ♥

Leitura
Era um quintal ensombrado, murado alto de pedras.
As macieiras tinham maçãs temporãs, a casca vermelha 
de escuríssimo vinho, o gosto caprichado das coisas
fora do seu tempo desejadas.

Ao longo do muro eram talhas de barro.
Eu comia maçãs, bebia a melhor água, sabendo
que lá fora o mundo havia parado de calor.
 
Depois encontrei meu pai, que me fez festa
e não estava doente e nem tinha morrido, por isso ria,
os lábios de novo e a cara circulados de sangue,
caçava o que fazer pra gastar sua alegria: 
onde está meu formão, minha vara de pescar,
cadê minha binga, meu vidro de café?
 
Eu sempre sonho que uma coisa gera,
nunca nada está morto.
O que não parece vivo, aduba.
O que parece estático, espera.

___________________Adélia Prado*
Imagem::Google

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